8 Maio, 2025 14:55

Cardeal norte-americano Robert Francis Prevost, 69 anos, até agora prefeito do Dicastério para os Bispos, tem experiência missionária na América Latina e foi líder mundial da Ordem de Santo Agostinho

Cidade do Vaticano, 08 mai 2025 (Ecclesia) – O cardeal Robert Francis Prevost, prefeito do Dicastério para os Bispos, foi hoje eleito como Papa, após dois dias de Conclave, assumindo o nome de Leão XIV.

O primeiro pontífice norte-americano, de 69 anos de idade, foi missionário e arcebispo no Peru, tendo ainda sido superior geral da Ordem de Santo Agostinho.

São Gregório III, da Síria, que liderou a Igreja Católica entre 731 e 741, tinha sido o último Papa não-europeu, antes da eleição de Francisco, a 13 de março de 2013.

O novo Papa nasceu a 14 de setembro de 1955 em Chicago (EUA); em 1977 entrou no noviciado da Ordem de Santo Agostinho (O.S.A.), na província de Nossa Senhora do Bom Conselho, e emitiu os votos solenes a 29 de agosto de 1981.

Aos 27 anos, foi enviado pela Ordem a Roma para estudar Direito Canónico na Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino (Angelicum), sendo ordenado sacerdote a 19 de junho de 1982.

Obteve a licenciatura em 1984 e foi enviado para trabalhar na missão de Chulucanas, Piura, Peru (1985-1986); em 1988 foi enviado à missão de Trujillo como diretor do projeto de formação comum para os aspirantes agostinianos dos Vicariatos de Chulucanas, Iquitos e Apurímac.

Enquanto religioso foi prior de comunidade (1988-1992), diretor de formação (1988-1998) e professor de professos (1992-1998); na Arquidiocese de Trujillo foi vigário judicial (1989-1998), professor de Direito Canónico, Patrística e Moral no Seminário Maior “São Carlos e São Marcelo”.

Em 1999, foi eleito prior provincial da Província Mãe do Bom Conselho (Chicago) e, dois anos e meio depois, o capítulo geral ordinário escolhe-o como responsável mundial da Ordem de Santo Agostinho, que exerceu durante 12 anos.

O Papa Francisco nomeou-o administrador apostólico da Diocese de Chiclayo (Peru) a 3 de novembro de 2014, elevando-o à dignidade episcopal de bispo titular da Diocese de Sufar.

A 7 de novembro, tomou posse canónica da diocese na presença do Núncio Apostólico e foi ordenado bispo a 12 de dezembro de 2014, festa de Nossa Senhora de Guadalupe, na Catedral da sua diocese.

Francisco nomeou-o membro da Congregação para o Clero em 2019 e membro da Congregação para os Bispos em 2020, ano em que foi designado administrador apostólico da Diocese de Callao.

No Vaticano, foi prefeito do Dicastério para os Bispos, desde 30 de janeiro de 2023, e presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina.

O Papa Francisco criou-o cardeal no Consistório de 30 de setembro de 2023, sendo considerado um colaborador próximo do seu antecessor, tendo sido um dos responsável pela gestão do Caminho Sinodal Alemão.

Na Assembleia Sinodal de 2024, o agora Papa disse aos jornalistas que os trabalhos propõem uma “nova forma de fazer as coisas na Igreja”, que exige tempo.

“Não devemos esperar soluções instantâneas”, referiu o colaborador do Papa, destacando a passagem de temas tidos como polémicos para os grupos de trabalhos criados por Francisco, em fevereiro do último ano.

Estes dez grupos de estudo abordam temas propostos pela primeira sessão sinodal, em outubro de 2023, envolvendo dicastérios da Cúria Romana, sob a coordenação da Secretaria-Geral do Sínodo, até junho de 2025.

Leão XIV sublinhou que os trabalhos da sessão sinodal apontavam a necessidade de mudar o paradigma de uma “estrutura de poder”, com mais organismos de consulta, nas dioceses e paróquias.

Em cima da mesa, acrescentou, está o processo de escolha de bispos e o papel dos núncios, representantes diplomáticos da Santa Sé em todo o mundo.

“O processo de busca de candidatos pode ser mais sinodal, mais aberto, incluindo uma maior participação de bispos, padres, religiosas, leigos e leigas”, assinalou o então prefeito do Dicastério para os Bispos.

O novo Papa assumia que a missão episcopal deve levar cada bispo ao encontro das “necessidades específicas” de cada realidade, reforçando a “presença pastoral e social da Igreja”, onde quer que as pessoas sofram, e a proteção da natureza.

O cardeal Prevost foi questionado sobre o papel dos leigos, nestes processos de nomeação episcopal, indicando que “já foram dados alguns passos significativos”, com indicações para “incluir mais leigos e religiosas” nas consultas e com maior presença de mulheres no Dicastério para os Bispos.

Admitindo diferenças de “pontos de vista”, mais do que de divisões, na assembleia sinodal, o novo pontífice referiu, a respeito da participação das mulheres, que as categorias dentro da Igreja “precisam de ser diferentes”, pelo que a sua ordenação sacerdotal poderia “criar um problema” em vez de o resolver.

Para Leão XIV, o debate deve visar um “novo entendimento da liderança, poder e autoridade”, como serviço, na Igreja.

O responsável falou de experiências de sinodalidade já em curso, como viu no Peru, enquanto bispo de Chiclayo.

 

No momento da morte de Francisco, o então cardeal Prevost recordou a viagem a Lampedusa, sinal de “proximidade com os migrantes” e a carta que o seu antecessor escreveu aos bispos dos EUA, em fevereiro, “sobre a importância de estar perto dos que sofrem e de ter o coração de Jesus Cristo”, quando foi implementado o programa de deportação em massa de imigrantes e refugiados clandestinos.

O último pontificado, acrescentava, deixou “este espírito de querer continuar o que começou com o Concílio Vaticano II, a necessidade de renovar sempre a Igreja.

Entre os ensinamentos que Francisco deixou, salientava, é preciso valorizar “o amor pelos pobres” e o desejo de “uma Igreja pobre, que caminha com os pobres, que serve os pobres”.

“Penso que a mensagem do Evangelho se compreende muito melhor a partir da experiência dos pobres, que não têm nada — reflete ainda o cardeal —, que procuram viver a fé e encontram tudo em Jesus Cristo. Considero que, neste sentido, o Papa deixou um exemplo muito grande para o mundo. A mim, pessoalmente, deixou-o pelo meu trabalho como bispo no Peru, como missionário e por muitas outras coisas”, acrescentava o agora Papa Leão XIV.

A biografia oficial distribuída pelo Vaticano antes do Conclave referia que o novo pontífice fala inglês, espanhol, português, italiano e francês.

São Gregório III, da Síria, que liderou a Igreja Católica entre 731 e 741, tinha sido o último Papa não-europeu, antes da eleição de Francisco, a 13 de março de 2013.

A lista de 265 Papas (e 267 pontificados) da história da Igreja Católica integra 11 pontífices nascidos no Médio Oriente (8), até ao século VIII.

O Anuário Pontifício, do Vaticano, identifica 210 Papas do atual território italiano (109 de Roma), 16 da atual França, 11 gregos (todos até ao século VIII), seis sírios e cinco da Alemanha, o último dos quais Bento XVI, que renunciou ao pontificado.

A lista inclui três pontífices oriundos do norte de África, quando o território dessas dioceses integrava o Império Romano, para além de dois naturais de Israel e Jerusalém, incluindo São Pedro.

Dois Papas da Dalmácia (atualmente Croácia), outros dois de Espanha e mais dois de origem “desconhecida” integram o elenco no qual se contam ainda representantes da Holanda, Inglaterra, Polónia e Argentina.

Entre os bispos de Roma encontra-se o português João XXI, falecido em 1277; algumas fontes identificam o Papa Dâmaso I (século IV) como sendo natural do atual território português.

O último pontífice a escolher o nome Leão foi Leão XIII, Papa entre 1868 e 1903, que se destacou pela sua defesa da Doutrina Social da Igreja, em particular com a encíclica “Rerum Novarum”.

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